segunda-feira, 19 de julho de 2010

Constança e Benedita

Querido Adriano,

tal como prometido, agora te explico a minha impossibilidade de te atender o telemóvel:

Benedita e Constança

fui mãe pela segunda e terceira vez e tal como da primeira, sinto-me a flutuar, a uns 5 cm do chão. Sento-me agora, depois de uma noite cheia de alma e fado, com a Benedita no colo e delicio-me com este "começar e novo". o voltar às fraldas.

a música que escoilhi com o Malaquias, em tempos foi este "what you do to me"

hoje, o que me transporta é a alma cheia de puro amor

a quem merece.

2.35/casa

domingo, 11 de julho de 2010

domingos alternativos

há, neste domingos de placidez e ternura, uma volatilidade própria de quem não conta com nada na vida. nascido sem razão de ser. como uma raíz apodrecida e que surge a propósito de nada: é sempre uma boa desculpa e vem sempre a propósito

"lembrei-me de ti sem querer!"

um poema vem sempre a propósito, cabe sempre em qualquer conversa. eugénio de andrade tentava, no mínimo de palavras possível, conter o máximo de mundo num só verso e nascia sempre assim uma "coisa" ("coisa" é uma boa palavra, conteúdo vazio logo espaço para o que se quiser) que atemorece o leitor e deixa-o lívido por instantes.

um poema surge em todo o lado. vive à nossa volta:

"hoje uma gaivota-bebé caiu do ninho. dilacerada pela dor e pela impotência de não sobreviver sem protecção superior, a vida ía-se esmiúçando em pios frágeis. acolhida num ninho de papéis improvisados, em cestos de pão inutilizados, o bebé foi deixado à espera que a mãe o viesse reconhecer. largas horas esperou o povo que se juntava à beira. aproxima-se a gaivota-mãe em voo de àguia-real e numa só bicada arranca-lhe um olho. pedaço de algodão, o resto do bebé vivo emagrece os pios e a mãe dá-lhe a bicada mortal. leva-o agora preso no bico para o alto de uma escadaria e volta para buscar o pedaço de comida no cesto do pão."

a poesia acontece num saco de plástico levado pelo vento (in "American beauty")

há sempre um instante, uma fracção de momento onde podemos intervir.
já que não podemos alterar o começo, podemos mudar o final do poema.


3.54/ao meu rei