quinta-feira, 7 de abril de 2011



o dia do divórcio. não há uma forma leve de passar por aquilo.
há quem pense que não é um papel que dita o verdadeiro divórcio, como há quem diga que um casamento não se faz pela conservatória. a verdade é que, perguntando a qualquer pessoa que já passou por isto, a verdade é que pesa. é um marco, é uma meta de chegada, mas apenas é uma meta de chegada vista na perspectiva do próprio dia e nos dias que o antecedem: de quem ainda não trocou a alma de sítio. é uma meta de partida, no dia a seguir e daí para a frente.

ontem um amigo meu divorciou-se. e o que eu mais desejava era poder pegar nele ao colo para não ter de passar pelas brasas descalço. a verdade é que é necessário ele caminhar sobre as brasas. pode ir de mão dada com alguém, mas ao lado, não a sofrer com ele. é uma angústia que só se pode vivÊ-la, angustiando. e essa angústia modifica, para sempre, a perspectiva do mundo e da vida. a pessoa que caminha sobre estas brasas não é a mesma pessoa que saiu na meta de partida. há toda uma mudança irreversível que nem adianta contrariar, só resta aceitar e rezar para que seja da melhor forma possível. passa a haver um termo de comparação, um antes e um depois e é importante que se saiba que o "depois" é tão bem melhor...
nunca fumei mas se calhar comparo com o "deixar de fumar". imagino que haja prazer em algumas cigarradas, mas voltar a sentir o verdadeiro sabor dos alimentos, voltar a ter qualidade de vida, ainda que o caminho pareça ser de pedras afiadas

"Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo."


não é uma utopia nem um oásis, há mesmo felicidade a seguir.



16'00/no meio do oceano

segunda-feira, 4 de abril de 2011

mensagem ao passageiro ido

Agora que não estás aqui, e como tua viúva, quero que saibas que o teu cheiro não está apenas nos livros, como diz a canção. Está na forma como as cadelas continuam a olhar para a porta, depois de eu própria já ter entrado em casa, e elas à espera que surjas a seguir para te fazerem a festa que tu tão bem conheces e te encherem o casaco de pêlos.
Quero que saibas desta forma de falar que não era minha, e onde utilizo vocábulos que desconhecia, veio alterar para sempre a minha comunicação e como a expresso aos outros. Quero que saibas que estes cinzeiros ficaram por tua causa porque eu nem fumo. Quero que saibas que não vou deitar a venda fora porque tu não conseguias dormir com luz no quarto e não tinha persianas para a filtrar. Quero que saibas que aprendi, para sempre, de que lado é África e de que lado é a América, a diferença entre a direita e a esquerda. Quero que saibas que nunca o meu gráfico emocional subiu a níveis tão altos de êxtase, como também nunca tinha entrado em tais níveis de obscurantismo.
Agora que vive comigo a tua ausência, como mãe e viúva antecipada, quero que saibas que levaste contigo o nosso sangue fresco onde circula, vivo e activo, o amor que, juntos, transformamos em ser humano.


21'44/arroz de frango da mamã