quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Heróis do Mar

se eu mergulhasse fundo e iniciasse a viagem submarina por mim adentro, iria perdendo a claridade da tona da água e tudo o que me era familiar, com a descida tornar-se-ía escuro e perigoso. será a intimidade individual perigosa? o que assustaria de início, a partir de certa altura, tornar-se-ía familiar e sistemático. mergulhar nos mares interiores e ultrapassar as correntes que nos afastam da luz de lá de cima é assustador e antagonicamente é sufocante. se chegasse ao fundo do mar e conseguisse passear por ele fora com as duas pernas, se aprendesse a respirar por guelras o que me era desconhecido passaria a ser a minha casa. até que ponto a minha condição humana não seria posta em causa?
se pudéssemos virar o nosso comportamento mundano para o exterior, até que ponto poderíamos alterar a vida das pessoas que nos rodeiam? o que é que eu posso fazer hoje pela próxima pessoa que eu encontrar pela frente, ainda que não a conheça?

vou experimentar mergulhar num mar nunca dantes navegado e lançar-me À Descoberta. Ser herói do meu mar e unir-me ao mar interior da próxima pessoa que eu encontrar À frente para formar um oceano. e se eu vivesse também nesse oceano juntamente com a pessoa com que me deparei? e se essa pessoa vivesse com a pessoa seguinte com a qual se deparou? este oceano de tantas águas misturadas seria universal mas a primeira gota seria portuguesa. esta gesta não é portuguesa, não lhe pertence por ser universal, mas cada portuguÊs tem este pingo de universalidade que lhe é inerente. ser portuguÊs é ser super homem: conseguem, aguentam, adaptam, resistem, ganham, criam, sobrevivem. ser portuguÊs é ser perverso por não jogar com as mesmas regras da morte e por subverter as regras da vida.

ser portuguÊs é mergulhar todos os dias e todos os dias aprender a respirar de uma forma nova.

00h22/heróis do mar

terça-feira, 20 de setembro de 2011

hino

- isto foi o que me pareceu ouvir:

"pudessem vocês saber que eu não estou de facto morto. estou a ver-te! como raio não se apercebem que eu não estou morto? isto também é novo para mim, caramba. aceito, que remédio, mas ajudem-me vocês também! eu não morri. ainda, pelo menos. ouço-te, Dinis! sei o que o teu irmão te está a dizer baixinho. ele continua preocupado com quem? ahh...dinis, dinis... tivesse ele a tua coragem. não me enganei quando te disse que fechei em chave de ouro. tens muito da tua mãe, mas também tens muito de mim. sempre ouvi os teus silêncios e percebi-os perfeitamente. nunca precisámos de palavras entre nós. sinto por cada um dos meus filhos que ainda não está tudo feito. a cada um dos teus irmãos, o trabalho não está completo, dinis. pudesses tu ouvir-me, meu filho. quero que saibas isto: se eu pudesse proclamar um seguidor, eras tu a quem eu confiaria o meu papel, filho. pudesses tu ouvir-me e saberias a pena que eu tenho de não ir a tempo de te dizer o quanto te amo, o quanto te admiro, o orgulho que tenho em ti, meu piruças. sempre tive. há um fosso entre nós e a tua boa disposição ajuda-nos a fechá-lo mas não é por mal, dinis. foi assim que fui educado, não me sei expressar de outra forma. e olha para a minha cara! até parece que me ouviste, dinis, vês o meu rosto pacífico? está tudo bem, filho, não estou a sofrer, estou vivo, estou aqui e estou sem dores. fica feliz por mim. pega-me na mão e não chores, pelo menos ainda. não é justo para mim e eu sei a pessoa justa que és. nisso sais a mim...

- foi isto. não sei se foi sonho se o que é que foi.



21h12/tasquinha