segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Denovação


Re tornar. Re viver. Re mexer. Re fazer. Re modificar. Re lembrar. Re virar.

e sair algo parecido?
- Não acredito nisto.

Sigo nos contornos da linha de cada R e embora a cabeça do R seja por definição circular e infinita, a certo momento, essa cabeça redonda desagua em duas pernas que a sustentam. Pernas que estão ligadas ao chão como duas raízes de carvalho que entram pelo chão adentro e não se permitem mover. Há um novo caminho, um novo pathos. Não se pode re coisa nenhuma. Não é possível voltar onde se parou e continuar o percurso como se não houvesse acontecido nada. As mãos que fizeram,  já não são estas que fazem. O tempo é axiomático e nessa certeza está deitada a inevitabilidade da mudança. Não encarar esta certeza é adiar a angústia da novidade. É não aceitar que já não se conhece a pessoa. Que mudou. Que já não é a mesma. Que o tempo a beijou (como beijou também) e que por isso, a pele está agora beijada. Não se pode desbeijar.

Suspeito de quem re. De quem tenta re. Que mude a etimologia! Caso volte, então que vá com a certeza que a única coisa em comum é ter o mesmo contexto coisal. Que as personagens até poderão ser as mesmas. Mas a peça de teatro com certeza, já não.

Então que não se re!

Proponho a abolição de todas as palavras começadas por re. Só porque isso não existe. Não é possível re. Não está de acordo com a verdade.

Sugiro o prefixo denovar. Não pretende voltar ao ponto onde se parou. Não pretende mexer no que está ido. sabe-se que está passado. Agora, no presente, pegar nos mesmos ingredientes e fazer um bolo novo.
Saber que já se tentou antes e que não resultou. Vamos denovar-nos?

Há lá algo mais verdadeiro?

17'53 / casa / a ouvir isto: https://www.youtube.com/watch?v=eXssvtOFTLM


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