terça-feira, 5 de dezembro de 2017

The Square - de dentro para fora



Fui ver este filme sem qualquer tipo de expectativa. Uma ideia vaga de alguém a deambular num restaurante em tronco nu. Nada mais.
 "The Square" é um filme escrito e dirigido por Ruben Ostlund e ganhou a Palme de Ouro este ano. Isto eu não sabia quando fui ver mas entendo agora. Uma luta constante, durante todo o filme, entre o riso sufocado e o grotesco.  Ostlund põe o dedo na ferida no que toca à hipocrisia e ao cinismo. Valores universais como o sentido de comunidade ou a solidariedade genuina, sem contrapagamentos são cinicamente revelados. Mais do que uma vez senti a minha alma a virar do avesso devagarinho, numa só cena, percorrendo em escassos segundos que me transportaram de um lado da alma, ao outro oposto. Comecei por sentir uma coisa e passado pouquíssimo tempo, já sentia o contrário. A cena da performance no jantar de gala ficará para sempre incrustada em mim. Aquilo que começa por ser uma performance artística de um actor com comportamento simiesco, desenrola-se para uma experiência artística que traz à tona o reflexo verdadeiro dos intervenientes, esbatendo os limites entre intervenientes, obra de arte e vida real. O nó no estômago e a suspensão respiratória. O cinismo posto a descoberto num protagonista antagónico. O outro lado da coisa.
A arte questionada. Poderão montes de areia espalhados numa sala serem tidos como arte? E um amontoado de cadeiras? Onde começa e onde acaba?
A polémica de uma criança sueca, branca, loira, olho azul, dentro de um suposto quadrado de segurança, no porto de abrigo, e como a explosão desta criança vai criar polémica. E se fosse negra? E se fosse muçulmana? Haveria polémica sequer? Aqui estão os confrontos.
"Christian" surge como um anti-herói porque, na tentativa de fazer o correcto, o outro lado...ah, o outro lado. A personagem da criança a quem acusa de ser ladrão e que angustiadamente perdemos o rasto, antevendo obviamente o pior.
E claro...Bobby McFerrin! Saudades de revisitar este monstro da música na sua interpretação do Avé Maria de Gounod.


Sinto que o filme continua a exercer em mim, ainda ao dia de hoje. Ainda lá estou, ainda não acabou o filme.

https://www.youtube.com/watch?v=zKDPrpJEGBY

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